segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pretérito Perfeito



Uma das muitas coisas que aprendi na faculdade de História, uma das suas maiores máximas, é que ela é cíclica. Raramente eventos atuais podem ser previstos, mas isso não quer dizer que algum historiador em algum lugar vai falar "em 1753, na cidade tal aconteceu um evento parecido e as pessoas lidaram assim, fizeram tudo dessa forma e nós podemos aproveitar isso, evitar aquilo..."e por aí vai. É quase uma forma de dizer um despreocupado "Ih... de novo!"
Mais engraçado do que eventos históricos que se repetem, são situações cotidianas que se repetem. Algumas coisas já fazem parte da rotina, ou variam de acordo com o azar de cada um, mas coisas que se repetem na sua história com um espaço de tempo considerável são sempre surpreendentes. Semana passada eu pude presenciar a minha própria história se repetindo.
Cheguei em casa por volta das duas da tarde morrendo de fome e de calor, com os cabelos pedindo para serem lavados. Liguei o chuveiro no verão, mas como moro na "sala de espera do inferno" em 3 segundos mudei pra água fria. Um pouco antes de pegar o condicionador, a luz acabou, ainda esperei um pouco pra ver se voltava, mas tive que tomar o banho todo no escuro! Mesmo brava com a Energisa, não achei a situação ruim, já tinha passado por piores e foi nessa hora que pensei: "parece até que estou em Goiás."
Acho que nunca comentei que já morei em Goiás, pois é, morei em uma cidadezinha chamada Morrinhos entre 1991 e 1995 e não sei por qual motivo, a luz lá também acabava direto, pode ser uma coisa que acontece em cidades muito quentes, ou não. Já fiquei no escuro várias vezes e muitas dessas quedas de energia aconteciam enquanto eu estava no banheiro, ou seja, a Lei de Murphy já me perseguia desde novinha. Quando a minha família se mudou pros fundos da extinta loja do meu pai, a casa tinha dois banheiros, e os banheiros não tinham janelas, nem um basculante! Era só um buraco retangular no alto da parede, então dá pra imaginar que quando ficava escuro, era breu total. Já aconteceu de o meu irmão e eu (dois medrosos) estarmos cada um em um respectivo banheiro, fazendo suas respectivas necessidades e advinha? a luz acabou! Os dois ficaram gritando, deixando meus pais loucos, como se alguma coisa muito anormal estivesse acontecendo.
Em Morrinhos eu desenvolvi a maioria dos meus medos infantis, apesar de ter crescido em lugares diferentes. Lá foi onde muitas das experiências marcantes aconteceram
Já disseram que eu tenho uma memória muito boa, por lembrar de muitas coisas de quando era nova, minha mãe diz que é porque eu sempre fui muito inteligente(oh!) e prestava atenção nas coisas, mas eu acho que é simplesmente porque eu tive uma infância muito boa e morar em tantas cidades me deu infâncias diferentes.Já fui criança de apartamento em cidade grande, já morei em casa com mais de 50 galinhas no quintal, já mudei pra uma escola onde não consegui fazer amigos, já tive festa surpresa, já me fantasiei de paquita pra marchar pelo colégio, já chutei o ponto mais fraco de um menino e já dancei lambada com o menino que era o meu ponto fraco!Foi em Morrinhos que comecei a ter meus primeiros problemas pra dormir, tudo por causa de "Aracnofobia" (quem é velho levanta a mão! \o/ ) e eu nem vi o filme, minha prima Milene me contou e eu fiquei apavorada, mais ainda porque em Morrinhos muita gente criava galinhas pra elas comerem as aranhas, escorpiões, cobras e afins. Por volta dos 8 anos comecei a migrar do meu quarto pra sala e o fato de estudar a tarde só piorou as coisas, como podia acordar até as onze da manhã ficava acordada até bem tarde, até todas as redes de tv fecharem o sinal e sobrar apenas a Globo numa época que nem tinha Intercine! Quando o sinal da Globo fechava eu quase chorava e ninguém entendeu a minha felicidade quando a Globo anunciou que ia passar a ter programação 24h por dia.
No entanto, mal sabia eu que a televisão ia me trair e me apresentar o meu maior medo tanto de infância como na vida adulta: ET's.
Quando "E.T." passou pela primeira vez na tv eu levei aquele sustinho inicial mas acabei gostando muito do filme, não assistia sozinha, mas gostava!
Agora quando passou a "Autópsia do ET" no Fantástico em 94, eu vi só uma vinhetinha que era tipo um quizz do intervalo, e fiquei sem dormir por umas duas semanas, sem contar que falei pro meu pai voltar com o meu beliche (é na minha cabeça et's não conseguiam subir a escadinha do beliche e nem abrir portas) e saia correndo da sala quando a vinheta do Fantástico aparecianos comerciais. A do plantão era fichinha perto do meu medo da vinheta do Fantástico. Não coloquei a foto da autópsia do e.t. aqui por motivos óbvios. Eu tentei, mas quando a primeira página da pesquisa de imagens do Google apareceu eu fechei rapidinho!
Por causa da vinheta o meu medo foi transferido pra qualquer coisa sobre et's. Eu só fui ver E.T. de novo quando já estava com uns 20 e poucos. Antes o meu medo infantil relacionado ao mundo do cinema era o Chuck - O brinquedo assassino, bom tenho medo até hoje, não assisto mesmo, mas o medo de et's diminuiu um pouco em comparação ao medo do Chuck.(mas amava o meu Fofão!)
Esse medo todo sem contar as coisas que eu aprendia na escola, principalmente na aula de folclore. Folclore brasileiro tem umas coisas assustadoras e cruéis. Eu fiz um trabalho sobre o Boitatá e quando ia pra casa da minha avó, não podia ouvir um grilo na janela que já tremia toda, mas se não fosse o medo do Boitatá somado ao medo do escuro eu nunca ia saber que na rua da minha avó os galos obedecem uma ordem na hora de cantar e o da minha vó era, eu acho, o terceiro.
Uma vez eu li a lenda da mandioca, depois li a da vitória-régia e fiquei toda emocionada, um dia até fui embora da biblioteca pra não chorar na frente de todo mundo...é eu era dessas crianças esquisitas, mas não era esquisita o tempo todo, só hoje acho que fui uma criança diferente, não que isso me fizesse especial! (Outras lendas aqui.)
Quando converso com pessoas da minha idade, vejo que aproveitei muito mais, fui muito mais criança, não só por lembrar de muitas das coisas que fiz, mas sim por ter feito muita coisa e feliz de saber que não devo lembrar nem a metade. Uma vez eu estava contando uma das muitas histórias de infância, quando a minha amiga Lívia disse: - Você vai se dar super bem com o meu namorado, ele é cheio de histórias de quando era pequeno.
E ela acertou em cheio.
Além do Denílson ser muito gente boa, ele realmente tem histórias muito engraçadas e o melhor, elas são de uma criança normal. Iguais as minhas, nada de espetacular, nada de brinquedos mirabolantes ou amigos imaginários, ou outro tipo de enfeites que muita gente coloca nas histórias de infância, pra passar a mensagem "eu era diferente". Nas muitas escolas que eu estudei, as coisas nunca eram assim tão diferentes, tinha sempre o engraçadinho, o atentado, o bonito, o bobo, o porco, o inteligente, o que não sabia brincar, o brigão, o gordinho, o chato, o burro, o magrelo, o isolado, o novato (minha categoria na maioria das vezes). Então quando a gente cresce e percebe que simplesmente foi uma criança normal, isso parece não ser suficente nos dias de hoje onde o legal é ser diferente.Eu conto nos dedos as pessoas que afirmam que eram simplesmente normais, que riam das bobeiras dos outros e que hoje se sentem mal por terem zuado alguém só pra poder ir de acordo com todo mundo, mas é preciso apelar ao infinito pra contar os que afirmam terem sido capetas ou autistas.
Sério, se eu tivesse estudado com todas essas crianças que são contadas pelos adultos de hoje, acho que eu seria a exceção. Tem gente que adora contar quantas brigas arrumou na escola, as inúmeras idas pra diretoria, as malcriações com as professoras, ou o oposto, a dificuldade de se adaptar, de fazer amigos, ser excluído de todas as brincadeiras, ter sido um loser total.
Eu fui uma vez pra diretoria por ter dado um chute no saco de um menino quando estava na 2ª série (vai ver foi por isso que nunca fui a favorita dos meninos!) sempre participava da bagunça iniciada por outros, tinha medo da diretora, adorava a maioria das professoras, mas também ri quando a Tia Darcy quebrou a cadeira e ficou presa entre a mesa e o quadro!
Tive uma infância normal, a diferença é que eu acho isso especial!
Não sei qual o grande problema nisso, das coisas mais legais que lembro da infância, eu gosto dos momentos mais simples e comuns. Das coisas que aconteciam com todo mundo, como o fato de acabar a luz na hora do banho!Justificar

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

2010

Eu prometo que essa semana coloco um post novo!


Estou colocando a vida nos eixos!